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terça-feira, 31 de março de 2009

Religiões


As religiões são capazes das maiores barbaridades e de barbaridades pequenas que são seu pão de cada dia. Explorando a ignorância e as carências do povo, pastores inescrupulosos, com dois dedos de conhecimentos e muitos metros de ambições, não passam, como diz o Evangelho, de guias cegos que conduzem seu rebanho para o precipício. Como falsos profetas, a inconsistência de sua pregação tem o mesmo tamanho de suas contas bancárias. E o povo é quem paga o dízimo de sua fé pouco esclarecida.

domingo, 29 de março de 2009

Conhecer

quarta-feira, 25 de março de 2009

Reforma ortográfica


2009 é o ano da reforma ortográfica.
Em casos como *AUTOESTIMA*, o hífen cai. A sua é que não pode cair.
Em algumas palavras, o acento desaparece, como em *FEIURA*. Aliás, poderia desaparecer a palavra toda.
O acento também cai em *IDEIA*, só que dela a gente precisa. E muito.
O trema sumiu em todas as palavras, como em *inconsequência*, que também poderia sumir do mapa. Assim, a gente ia viver com mais *TRANQUILIDADE*.
Mas nem tudo vai mudar.
Abraço continua igual. E quanto mais apertado, melhor.
*Amizade *ainda é com "z", como vizinho, futebolzinho, barzinho.
Expressões como *"Eu te amo".** *continuam precisando de ponto. Se for de exclamação, é *PAIXÃO*, que continua com x, como *abacaxi*, que, gostando ou não, a gente vai ter alguns para descascar.
*Solitário* ainda tem acento, como *Solidário*, que só muda uma letra, mas faz uma enorme diferença.
*CONSCIÊNCIA* ainda é com *SC*, como SANTA CATARINA, que precisa tocar a vida pra frente.
E por falar em *VIDA*, bom, essa muda o tempo todo, e é por isso que emociona tanto.

terça-feira, 24 de março de 2009

O valor de uma dona de casa

Um homem chegou em casa, após o trabalho, e encontrou seus três filhos brincando do lado de fora, ainda vestindo pijamas. Estavam sujos de terra, cercados por embalagens vazias de comida entregue em casa.
A porta do carro da sua esposa estava aberta.
A porta da frente da casa também.
O cachorro estava sumido, não veio recebê-lo.
Enquanto ele entrava em casa, achava mais e mais bagunça...
A lâmpada da sala estava queimada, o tapete estava enrolado e encostado na parede.
Na sala de estar, a televisão ligada, berros num desenho animado qualquer, e o chão estava atulhado de brinquedos e roupas espalhadas.
Na cozinha, a pia estava transbordando de pratos; ainda havia café da manhã na mesa, a geladeira estava aberta, tinha comida de cachorro no chão e até um copo quebrado em cima do balcão.
Sem contar que tinha um montinho de areia perto da porta.
Assustado, ele subiu correndo as escadas, desviando dos brinquedos espalhados e de peças de roupa suja.
'Será que a minha mulher passou mal?' ele pensou. 'Será que alguma coisa grave aconteceu?'
Daí ele viu um fio de água correndo pelo chão, vindo do banheiro. Lá ele encontrou mais brinquedos no chão, toalhas ensopadas, sabonete líquido espalhado por toda parte e muito papel higiênico na pia. A pasta de dente tinha sido usada e deixada aberta e a banheira transbordando água e espuma.
Finalmente, ao entrar no quarto de casal, ele encontrou sua mulher ainda de pijama, na cama, deitada e lendo uma revista.
Ele olhou para ela completamente confuso, e perguntou:
Que diabos aconteceu aqui em casa? Por que toda essa bagunça?
Ela sorriu e disse:
- Todo dia, quando você chega do trabalho, me pergunta: 'Afinal de contas, o que você fez o dia inteiro dentro de casa?'
Bem... Hoje eu não fiz nada, FOFO !!!!

sábado, 21 de março de 2009

Ah! isto eu não sabia!!!...


"Pequenos detalhes de uma nota perdida num canto de jornal revelam mais sobre o que se deve saber sobre o momento do país do que todo o trabalho de hermenêutica das atas de conjuntura do Banco Central e as profundas pesquisas socioeconômicas do IBGE. O país tem o 10º maior Produto Interno Bruto do mundo, e mazelas de republiquetas.

O caso da jovem, talentosa ginasta Jade Barbosa sem dinheiro para tratar uma grave lesão no punho é um choque na consciência de um país cujos governantes vão gastar o que não tem para sediar a Copa do Mundo, querem promover as Olimpíadas, e nem conseguem prover o mínimo amparo a seus ídolos. Jade está vendendo camisetas a R$ 25,00 com sua foto, alusivas às Olimpíadas de Pequim, para arrecadar o dinheiro que precisa para se tratar. Uma atleta olímpica...

César Barbosa, seu pai, disse ao portal UOL que embora Jade seja atleta do Flamengo o clube não oferece plano de saúde. “Os exames e ressonâncias ela faz pelo convênio particular que fiz para ela”, disse. “Agora, consultas, remédios, tudo isso sai do nosso bolso. É muito caro. Gastamos mais de R$ 600,00 por mês só em medicamentos.”

Durante os Jogos de Pequim, dirigentes do Ministério dos Esportes e do Comitê Olímpico Brasileiro falaram em investimentos contínuos para transformar o Brasil em potência olímpica. O presidente Lula chegou a lamentar as poucas medalhas conquistadas. Foi o 23º, com população e PIB maiores que a nanica Jamaica, 13º, por exemplo, no quadro geral de medalhas, a miserável Etiópia, o 18º, Quênia, 15º. E no que deram tais intenções? Em gastos de marketing e relações públicas para trazer as Olimpíadas ao país.

No programa bilionário de investimentos para construção de estádios nas capitais que vão sediar as chaves da Copa do Mundo - o grosso com previsão de virar canteiro de obras a tempo de ser aproveitado nas eleições de 2010. Quanto aos cuidados aos atletas, afora os afortunados que jogam no futebol europeu, silêncio. Se Jade, uma atleta de ponta, está abandonada, o que dizer da situação dos milhares de jovens que se esgotam na rotina de treinos, muitas vezes sem nenhum subsídio, na esperança de superar limites, o desafio mais puro das Olimpíadas. É como se o atleta só servisse ao poder para fotografias oficiais, ainda assim se tiver medalhas para pendurar no peito.

Fartura no Congresso Jade expõe com sua desdita a miséria dos esportes, mas também ela um cisco no apinhado de contradições de um país cujos políticos se voltaram para seus próprios interesses, como revela a sucessão dos escândalos no Senado e na Câmara, o último deles incompreensível – trágico mesmo: os 181 diretores lotados na Casa legislativa com 81 senadores, e 104 na outra, com 513 deputados, quando meia dúzia já estaria de bom tamanho. Há diretor de ata, de garagem, de anais. E de mictórios, também há? Para eles não faltam recursos, excedem. É tal o descontrole que mal conhecem direito o aparato de que dispõem para servi-los, como os 18,6 mil funcionários da Câmara, e sem contar os inativos, e outros 10 mil no Senado. Dá uma média de 48 servidores por parlamentar. Ou R$ 9,76 milhões por ano, o custo total médio de cada deputado e senador para o contribuinte.

Se o Congresso se supera nesta espécie de competição contra a boa vontade do cidadão, o Executivo não faz por menos. Basta a própria área de esportes, merecedora de um ministério entregue a uma das facções da coalizão partidária de Lula, o PC do B. Saiu de lá um projeto obtuso a pretexto de combater a violência nos estádios de futebol. A idéia é obrigar os cidadãos a portar uma “carteira de torcedor” sem a qual ninguém poderá comprar ingresso nem passar em catracas eletrônicas que seriam instaladas nos estádios. A carteira do torcedor seria gratuita, segundo o ministro dos Esportes, Orlando Silva. É. Mas e o custo das catracas, do software de identificação do torcedor, da manutenção do sistema? Quem vai pagar? De graça não será.

Para os desperdícios que fazem a alegria dos partidos o dinheiro não falta. Tome-se a Timemania: a loteria lançada para aliviar os cofres falidos de clubes de futebol. Dos dirigentes que os puseram na lona nada se exigiu e tudo se deu. E a Jade falta até o que não tem valor monetário: atenção e carinho. Assim vai o Brasil. Tire-se a economia, mesmo com a crise global, e sobra pouco com o que não se afligir. Basta atentar para os pequenos detalhes. Revelam tudo para quem não se deixou ficar em torpor. " (Antonio Machado)

quarta-feira, 18 de março de 2009

A prisão de cada um (Martha Medeiros)


O psiquiatra Paulo Rebelato, em entrevista para a revista gaúcha Red 32, disse que o máximo de liberdade que o ser humano pode aspirar é escolher a prisão na qual quer viver.
Pode-se aceitar esta verdade com pessimismo ou otimismo, mas é impossível refutá-la. A liberdade é uma abstração.
Liberdade não é uma calça velha, azul e desbotada, e sim, nudez total, nenhum comportamento para vestir.
No entanto, a sociedade não nos deixa sair à rua sem um crachá de identificação pendurado no pescoço.
Diga-me qual é a sua tribo e eu lhe direi qual é a sua clausura. São cativeiros bem mais agradáveis do que o Carandiru: podemos pegar sol, ler livros, receber amigos, comer bons pratos, ouvir música, ou seja, uma cadeia à moda Luis Estevão, só que temos que advogar em causa própria e Hábeas Corpus, nem pensar.
O casamento pode ser uma prisão.
E a maternidade, a pena máxima.
Um emprego que rende um gordo salário trancafia você, o impede de chutar o balde e arriscar novos vôos.
O mesmo se pode dizer de um cargo de chefia.
Tudo que lhe dá segurança ao mesmo tempo lhe escraviza.
Viver sem laços igualmente pode nos reter.
Uma vida mundana, sem dependentes para sustentar, o céu como limite: prisão também.
Você se condena a passar o resto da vida sem experimentar a delícia de uma vida amorosa estável, o conforto de um endereço certo e a imortalidade alcançada através de um filho.
Se nem a estabilidade e a instabilidade nos tornam livres, aceitemos que poder escolher a própria prisão já é, em si, uma vitória. Nós é que decidimos quando seremos capturados e para onde seremos levados.
É uma opção consciente.
Não nos obrigaram a nada, não nos trancafiaram num sanatório ou num presídio real, entre quatro paredes.
Nosso crime é estar vivo e nossa sentença é branda, visto que outros, ao cometerem o mesmo crime que nós - nascer - foram trancafiados em lugares chamados analfabetismo, miséria e exclusão.
Brindemos: temos todos, cela especial.

segunda-feira, 16 de março de 2009

O cisma da hierarquia católica

Os últimos acontecimentos envolvendo a interrupção da gravidez da menina de nove anos em Pernambuco evidenciaram um fato que já estava presente desde muito tempo na vida da Igreja Católica Romana. Os bispos perderam o senso de governarem unidos aos desafios da história e à fé da comunidade e julgam-se mais fiéis ao Evangelho de Jesus do que a própria comunidade. Por manterem uma compreensão centralizadora e anacrônica de sua função e da teologia que lhe corresponde desviaram-se de muitos sofrimentos e dores concretas das pessoas, sobretudo das mulheres. Passaram a ser defensores de princípios abstratos, de incertas hipóteses futuríveis e pretenderam até ser advogados de Deus.
A este acontecimento de distanciamento chamo de cisma. Os bispos tanto a nível nacional quanto internacional, e aqui incluo também o Papa, como bispo de Roma, tornaram-se cismáticos em relação à comunidade de cristãos católicos, isto é, romperam com grande parte dela em várias situações. O incidente em relação à proibição da interrupção da gravidez da menina do qual Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e Recife foi um dos protagonistas é um exemplo irrefutável. Sem dúvida há muitas pessoas e grupos que pensam como eles e que reforçam seu cisma. Faz parte do pluralismo no qual sempre vivemos.
A hierarquia da Igreja, servidora da comunidade dos fiéis não pode em certas questões separar-se do sentido comum e plural da vivência da fé. Não pode igualmente para certos assuntos de foro pessoal e mesmo grupal substituir-se à consciência, às decisões e ao dever das pessoas. Pode emitir sua opinião, mas não impô-la como verdade de fé. Pode expressar-se, mas não forçar pessoas a assumir suas posições. Nesse sentido, não pode instaurar uma guerra santa em nome de Deus para salvaguardar coisas que julga serem vontade e prerrogativa de Deus. A tradição teológica na linha mais profética e sapiencial nunca permitiu que nenhum fiel mesmo bispo falasse em nome de Deus. E isto porque o deus do qual falamos fala em nosso nome e tem a nossa imagem e semelhança.
O Sagrado Mistério que atravessa tudo o que existe é inacessível aos nossos julgamentos e interpretações. O Mistério que em tudo habita não precisa de representantes dogmáticos para defender seus direitos. Nossa palavra é nada mais e nada menos do que um balbuciar de aproximações e de idéias mutáveis e frágeis, inclusive sobre o inefável mistério. É nessa perspectiva que também não se pode obrigar que a Igreja hierárquica torne, por exemplo, a legalização do aborto sua bandeira, mas simplesmente que não impeça que uma sociedade pluralista se organize conforme as necessidades de suas cidadãs e cidadãos e que estes tenham o direito de decidir sobre suas escolhas.
As comunidades cristãs assim como as pessoas são plurais. Num mundo tão diverso e complexo como o nosso, não podemos admitir que apenas a opinião de um grupo de bispos, homens celibatários e com uma formação limitada ao registro religioso, seja a expressão do seguimento da tradição do Movimento de Jesus. A comunidade cristã é mais do que a igreja hierárquica. E, a comunidade cristã é na realidade múltiplas comunidades cristãs e estas são igualmente muitas pessoas cada uma com sua história, suas escolhas e decisões próprias diante da vida.
Impressiona- me o anacronismo das posturas filosóficas e éticas episcopais começando pelos bispos brasileiros e continuando nas instâncias romanas como se pode ler na entrevista que o cardeal Giovanni Batista Re, presidente da Congregação para os bispos, deu ao jornal italiano La Stampa concordando com a postura dos bispos brasileiros. Os tempos mudaram. Urge, pois, que a teologia dos bispos saia de uma concepção hierárquica e dualista do Cristianismo e perceba que é na vulnerabilidade às múltiplas dores humanas que poderemos estar mais próximos das ações de justiça e amor. É claro que sempre poderemos errar inclusive querendo acertar. Esta é a frágil condição humana.
Creio que nossas entranhas sentem em primeiro lugar as dores imediatas, as injustiças contra corpos visíveis e é a eles que temos o primeiro dever de assistir. A consternação e a comoção em relação ao sofrimento da menina de nove anos foram grandes. E isto porque é a esta vida presente e atuante, a esta vida de menina feita mulher violada e violentada em nosso meio que devemos o respeito e o cuidado primeiros. Por isso como membro da comunidade cristã, louvo a atitude do Dr. Rivaldo Mendes de Albuquerque do Instituto Maternal Infantil de Recife assim como a mãe da menina e todas as organizações e pessoas que acudiram a ela neste momento de sofrimento que certamente deixará marcas indeléveis em sua vida.
Dirão alguns leitores que minha postura não é a postura oficial da Igreja Católica Romana. Entretanto, o que significa hoje a palavra oficial? O que é mesmo Igreja oficial? A instituição que se arvora como representante de seu deus e ousa condenar a vida ameaçada de uma menina? A instituição que se considera talvez a melhor seguidora do Evangelho de Jesus?
Não identifico a Igreja à hierarquia católica. A hierarquia é apenas uma parte ínfima da Igreja.
A Igreja é a comunidade de mulheres e homens espalhada pelo mundo, comunidade dos que estão atentos aos caídos nas estradas da vida, aos portadores de dores concretas, aos clamores de povos e pessoas em busca de justiça e alívio de suas dores hoje. A Igreja é a humanidade que se ajuda a suportar dores, a aliviar sofrimentos e a celebrar esperanças.
Continuar com excomunhões, inclusões ou exclusões parece cada vez mais incentivar o crescimento de relações autoritárias desrespeitosas da dignidade humana, sobretudo, quando surgem de instituições que pretendem ensinar o amor ao próximo como a lei maior. De quem Dom José Cardoso e alguns bispos se fizeram próximos nesse caso? Dos fetos inocentes, dirão eles, aqueles que precisam ser protegidos contra o "Holocausto silencioso" cometido por algumas mulheres e seus aliados. Na realidade, fizeram-se próximos do princípio que defendem e se distanciaram da menina agredida e violentada tantas vezes. Condenaram quem levantou a menina caída na estrada da vida e salvaguardaram a pureza de suas leis e a vontade de seu deus. Acreditam que a interrupção da gravidez da menina seria uma lesão ao senhorio de Deus. Mas as guerras, a crescente violência social, a destruição do meio ambiente não seriam igualmente lesões que mereceriam denúncia e co ndenação maior? Perdoem-me se, sem querer acabo julgando pessoas, mas diante da inconsistência de certos argumentos e da insensibilidade aos problemas vividos pela menina de nove anos uma espécie de ira solidária me assola as entranhas.
De fato um cisma histórico está se construindo e tem crescido cada vez mais em diferentes países. A distancia entre os fiéis e uma certa hierarquia católica é marcante. O incidente em relação a interrupção da gravidez da menina pernambucana é apenas um entre os tantos atos de autoritarismo e desconhecimento da complexidade da história atual que a hierarquia tem cometido.
Na medida em que os que se julgam responsáveis pela Igreja se distanciam da alma do povo, de seu sofrimento real estarão sendo os construtores de um novo cisma que acentuará ainda mais o abismo entre as instituições da religião e a simples vida cotidiana com sua complexidade, desafios, dores e pequenas alegrias. As conseqüências de um cisma são imprevisíveis. Basta aprendermos as lições da história passada.
Termino este breve texto lembrando do que está escrito no Evangelho de Jesus de diferentes maneiras. Estamos aqui para viver a misericórdia entre nós. E todos nós necessitamos dessa misericórdia, único sentimento que nos permite não ignorar a dor alheia e nos ajudarmos a carregar os pesados fardos uns dos outros.

*Ivone Gebara - Teóloga, religiosa, da congregação das Conegas de Santo Agostinho.

sexta-feira, 13 de março de 2009

A menina do Recife...


Artigo que Miriam Leitao publicou em seu blog

Seja feliz, menina!
Anoitece no dia da Mulher e este silêncio do blog não é falta do que dizer. É tristeza. O caso da menina de Recife foi devastador. Não, ninguém ignora quantas meninas são vitimas da violência em suas próprias casas. Os algozes são os pais, padrastos, pessoas que deveriam estar ensinando e protegendo. Os números são muitos, os casos que aparecem na imprensa são frequentes. Mas a menina de Pernambuco doeu mais.
Talvez por ter apenas nove anos, por estar sendo estuprada desde os seis, ou porque a chantagem do padrasto era que mataria a mãe. Ou talvez porque ela é bem pequena, menor do que deveria ser para a sua idade. A menina passou anos vendo a irmã também abusada. Só a mãe das duas nada via. O que acontece que cega as mães?
A menina de Recife lembra o quanto a luta da mulher será longa. Recentemente a Sharia, um código tribal brutalmente contra a mulher, foi restabelecida em todo o Paquistão. Acaba qualquer chance de que não aconteçam casos como a da escritora do livro Desonrada, Mukhtar Mai, que foi condenada a ser estuprada publicamente porque seu irmão de 12 anos teria olhado para uma mulher de casta "superior". O suplício de Mukhtar, com estupro público e múltiplo, só não foi mais intenso que sua força de superação. A história dessa paquistanesa choca e emociona, mas a notícia de que a Sharia, que tinha começado a ser suprimida no Paquistão, volta a ser usada em todo o país é um choque. Penso em Mukhtar naquela pequena aldeia onde ela decidiu morar e resistir com uma escola para meninas e meninos.
Normalmente eu gosto de escrever nos dias oito de março, de quanto avançamos, mostrando estatísticas de conquistas, e de quanto falta avançar, mostrando as diferenças salariais, o pequeno percentual de mulheres no poder em qualquer país, as discriminações, mas aí... veio a menina de Recife.
Ela simplesmente me enfraquece. Que números de avanços levantar para compensar essa violência?
Eu penso nela diariamente desde o dia da notícia. Não pela polêmica da Igreja Católica, porque a Igreja não me espanta. Que ela excomungue o médico, as enfermeiras, a mãe pela decisão de interrupção da gravidez e que nada diga sobre o estuprador, não me surpreende. É apenas bizarro! Medieval.
Eu penso na menina de Recife e nos debates que tenho participado nos últimos anos, sempre em março. Nesses debates sempre discordo das mulheres bem sucedidas que dizem que a luta está ganha, que o feminismo é um movimento ultrapassado, ou outros equívocos assim. Eu, feminista, confesso, minha luta e meu espanto diante da incapacidade de ver o óbvio: que cinco mil anos de opressão não se acabam em poucas décadas, que há muito a fazer, a construir, a vigiar, para que haja algum dia respeito igual. Falta tanto para o dia em que poderemos dizer que o feministro está superado!
Mas hoje, na verdade, eu penso apenas no futuro dela: a menina curará suas feridas? Conseguirá entender e processar a violência de que foi vítima? Vai estudar, ter carreira, filhos? Vai conseguir amar um dia? Escapará das teias da reprodução da pobreza? Vai simplesmente reaprender a brincar, como deve fazer uma menina de nove anos?.
Eu podia dizer que ela desperta em mim uma fúria feminista. E é verdade, mas é uma verdade incompleta. Ela desperta em mim o sonho de protegê-la de algum modo. De embalá-la docemente e contar uma história cheia de aventuras e graça. De cantar para ela uma cantiga de roda, de brincar de pique esconde em volta da casa. De ir com ela ao cinema e comer pipoca sentada no degrau de uma escadaria. Que tal um sorvete para resfrescar o calorão?
Não sei o que é. Mas por alguma razão eu penso insistemente na menina de Recife neste dia da mulher. Penso com o coração. Eu apenas sonho que suas feridas se cicatrizem um dia.
O discurso feminista, com estatísticas e fatos eloquentes, eu o farei outro dia. Hoje eu apenas quero sonhar que a menina de Recife um dia, apesar de tudo, após tanta violência, será feliz.
"Que nada nos defina.Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância" (Simone de Beauvoir)

terça-feira, 10 de março de 2009

A terapia do elogio (Arthur Nogueira)


Renomados terapeutas que trabalham com famílias divulgaram uma recente pesquisa, onde se nota que os membros das famílias brasileiras estão cada vez mais frios, não existe mais carinho, não valorizam mais as qualidades, só se ouvem críticas. As pessoas estão cada vez mais intolerantes, e se desgastam valorizando os defeitos dos outros. Por isso, os relacionamentos de hoje não duram.
A ausência de elogio está cada vez mais presente nas famílias de média e alta renda. Não vemos mais homens elogiando suas mulheres, ou vice-versa, não vemos chefes elogiando o trabalho de seus subordinados, não vemos mais pais e filhos se elogiando, amigos, etc.
Só vemos pessoas fúteis valorizando artistas, cantores, enfim, pessoas que usam a imagem para ganhar dinheiro e que, por consequência, são pessoas que tem a obrigação, mais tempo e maiores condições para cuidar melhor do corpo e do rosto.
Essa ausência de elogio tem afetado muito as famílias. A falta de diálogo em seus lares, o excesso de orgulho impede que as pessoas digam o que sentem, e levam essa carência para dentro dos consultórios. Acabam com seus casamentos, acabam procurando em outras pessoas o que não conseguem dentro de casa.
Vamos começar a valorizar nossas famílias, amigos, alunos e subordinados. Vamos elogiar o bom profissional, a boa atitude, a ética, a beleza de nossos parceiros ou nossas parceiras, o comportamento de nossos filhos.
Vamos observar o que as pessoas gostam. O bom profissional gosta de ser reconhecido, o bom filho gosta de ser reconhecido, o bom pai ou a boa mãe gostam de ser reconhecidos, o bom amigo, a boa dona de casa, a mulher que se cuida, o homem que se cuida, enfim, vivemos numa sociedade em que um precisa do outro, é impossível um homem viver sozinho, e os elogios são a motivação na vida de qualquer pessoa.
Quantas pessoas você poderá fazer feliz hoje elogiando de alguma forma?
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“Não devemos permitir que alguém saia de nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz.” (Madre Tereza de Calcutá)