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quinta-feira, 27 de setembro de 2007

O governo central gasta muito e gasta mal

Este texto não é nenhuma previsão catastrófica, mas, uma análise lógica que nos mostra preocupações quanto a política econômica do governo. Governo que tem em todos os cargos da administração federal, políticos fanáticos e incompetentes com inclinações para tudo reestatizar e tendo com isto, fontes de arrecadação para o principal partido do governo através do “dízimo” que é cobrado dos que ocupam cargos.
O nosso presidente da República, utilizando-se da retórica, cantou e canta que a crise americana no mercado imobiliário não abalou o mercado financeiro no Brasil; por desconhecer na prática os fundamentos de economia, crises do gênero, por vezes, acabam provocando outras crises, inclusive na esfera social e moral. Com conjuntura econômica não se brinca e o Brasil não está imune a abalos financeiros que sofre ou venha a sofrer a economia mundial. Se países evoluídos economicamente tiveram de injetar bilhões de dólares através de seus Bancos Centrais, não dá para entender porque a “administração” pública brasileira se diz que o Brasil está imune a desastres financeiros na maior economia mundial.

A economia brasileira apresenta uma maior solidez em vários indicadores macroeconômicos, em comparação com o ano de 2002. Temos baixa inflação, superávits comerciais recordes e reservas internacionais superiores a U$ 150 bilhões. As perspectivas de crescimento também são maiores, ao redor de 4,5% para este ano. Contudo, é bom lembrar que, apesar disso, o Brasil é um dos países emergentes de menor crescimento, e deverá crescer menos que a economia mundial, a qual, segundo o FMI, se expandirá 5,2% durante 2007 e 2008. Além disso, os bons resultados macroeconômicos mostrados por nosso País dependem fundamentalmente do desempenho do cenário internacional.
O crescimento econômico de qualquer país depende basicamente da quantidade de investimento em capital físico (aquisição de máquinas e equipamentos), investimento em capital humano (educação e capacitação) e do avanço tecnológico. Todos esses fatores necessitam de financiamento, o que requer a existência de um nível de poupança bem maior que aquele de que a economia brasileira é capaz. Temos um setor privado com baixíssima capacidade de poupança, pois, já contando com uma renda comprometida quase na totalidade com gastos de consumo essencial, ainda deve pagar uma carga tributária próxima a 40% da renda. Além disso, temos um governo que gasta crescentemente e gasta “mal”, pois concentra a maior parte de suas despesas em gastos correntes, basicamente salários de servidores públicos, gastos com a previdência e com políticas assistencialistas, tipo Bolsa-Família. Ou seja, não existe crescimento de poupança pública, ao contrário, existe decréscimo, que só não é maior porque a arrecadação está se expandindo de forma contínua, o que permite manter algum superávit primário. Mas o resultado final é um déficit, o que significa que o governo não está aproveitando o superávit primário para reduzir o endividamento, que sempre foi o objetivo; se não o consegue, termina tendo que “rolar” parte da dívida. O endividamento em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) está caindo, fundamentalmente devido às reduções da taxa SELIC, referência para a remuneração de grande parte dos papéis públicos. Resumindo tudo isso, poderíamos dizer que o atual governo está redistribuindo o “bolo” antes que ele cresça. Sendo assim, o crescimento econômico atual, em vez de ser determinado pelo aumento da capacidade de produção, está sendo impulsionado pelo consumo, o que pode provocar pressões inflacionárias. Isso só não acontece porque, com o dólar barato, as importações têm aumentado de forma importante, o que termina colocando um “teto” natural à elevação dos preços internos.
E o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)? O PAC é apenas um amálgama de projetos públicos, em sua maioria já contemplados anteriormente, e projetos privados que não passam de intenções. O Governo acredita que o setor privado se entusiasmará e investirá, ao perceber que o setor público realizará importantes investimentos. Essa idéia é um equívoco porque, por um lado, o Governo não possui grande capacidade de investimento, como já vimos, além de existir grandes entraves burocráticos, que terminam atrasando consideravelmente a realização de uma série de projetos. No que tange ao setor privado, sua disposição a investir também tende a ser afetada pelo marco regulatório, que sofre de grande incerteza devido à crescente indefinição do futuro das agências reguladoras. Outro aspecto que aumenta a percepção de risco por parte dos empresários privados é a disposição, mostrada recentemente pelo Governo, de reestatizar setores como a telefonia fixa, a petroquímica e a eletricidade, sem que existam motivos palpáveis para tal. Não adianta anunciar um “mega-plano” de investimentos, que depende de forma importante do setor privado, se o próprio Governo dá sinais de preferir que o Estado seja o principal motor da economia. Além de tudo isso, temos um grande gargalo na infra-estrutura, que não é capaz de sustentar um crescimento acelerado da economia sem entrar de vez em colapso, em “apagões” aéreos, rodoviários, de energia elétrica, etc.
Em primeiro lugar, a economia brasileira encontra-se relativamente “blindada” para enfrentar essa nova crise financeira, pois dispomos de elevado nível de reservas internacionais, o que contribui para reduzir de forma importante nossas necessidades atuais de moeda estrangeira. Por isso mesmo, essa turbulência tem se manifestado em nosso País de forma bem limitada, provocando uma moderada elevação do câmbio e algumas quedas nas cotações da BOVESPA, e não uma crise na balança de pagamentos. Agora, está claro que, se essa crise redundar em uma desaceleração ou até em uma recessão da economia norte-americana e mundial, aí sim o panorama da economia brasileira se complica, porque já não poderemos realizar a “mágica” de crescer a partir do consumo, sem provocar aumento da inflação. Contudo, essa crise financeira atual não parece estar afetando diretamente os bancos internacionais, pois os bancos centrais têm injetado liquidez suficiente nos mercados para compensar a falta de fundos, e ela está circunscrita a um segmento de alto risco do mercado imobiliário norte-americano, que equivale a 20% do total.
Sinceramente, acho que há uma obsessão injustificada por esse tema na economia brasileira, principalmente por parte das autoridades econômicas, em seu afã de legitimar sua política econômica atual. Embora, como já disse anteriormente, o Brasil mostre atualmente melhores indicadores macroeconômicos que no passado, as agências classificadoras também estão atentas aos problemas pendentes. Essas classificações de risco são realizadas de forma comparativa, e não absoluta, e aí o Brasil não se sai muito bem em relação a outras economias emergentes –– como a Rússia e o México, por exemplo –– principalmente na questão fiscal. Portanto, acho que essa classificação não será dada ao Brasil de forma automática, e que isso também dependerá da situação de liquidez externa. Se o impressionantemente longo período de auge econômico mundial terminar, e com ele o excesso de liquidez, penso que os investidores externos ficarão mais exigentes ao avaliar os indicadores econômicos de países emergentes como o Brasil.

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