A todos os que foram ou deixaram-se ser, não apenas uma, mas diversas vezes enganados, aos incrivelmente idiotas e, acima de tudo, aos verdadeiramente incompetentes, inaptos, ineficazes e ineficientes, aos ressentidos e aos covardes incorrigíveis, aos eternamente incapazes de superar-se: – Olhem-me, ao menos uma vez!
Aos desobedientes, aos maníacos, aos desajustados, aos perdidos e aos esquecidos ou evitados, a todos os promíscuos, perversos, maliciosos, aos libertinos e libidinosos, aos desqualificados, ou então aos assumidamente inúteis, aos descabidamente preguiçosos, manhosos, acomodados, desleixados, frívolos e enfadonhos: – Nada posso ofertar-lhes, mas cá estou.
Aos indecisos, aos insatisfeitos e, sobretudo, aos arrependidos inatos (porque isto é uma qualidade e não um estado), aos deprimidos, aos ansiosos, nervosos, insanos, inconseqüentes, vulneráveis, aos insuportavelmente impacientes, aos neuróticos e psicóticos crônicos, aos viciados, alcoólatras e toxicômanos: – Por misericórdia, não façam descaso do que pode ser o meu único sentimento de afeto...
Aos profundamente nostálgicos, aos saudosistas, aos muitos incrédulos, agnósticos e inveterados niilistas, ou então aos desumanamente medíocres,voluntariamente esquecidos ou desligados, aos que subiram ao cume da desilusão, ou aos que desceram, ou caíram, à sombra da vida: – Não importa a ninguém, que eu lhes reserve o meu mais sublime carinho.
Aos ruins, aos deselegantes, a todos os seres humanos invisíveis, aos incapazes de dar-se ou obter qualquer reconhecimento, aos muito pobres de espírito e também aos ditos desalmados, aos inquilinos da mais angustiante desgraça, aos suicidas, aos desaparecidos, aos dementes, aos parcial ou completamente inválidos, por vontade própria ou não: – Eis aqui o meu olhar sereno, e o meu pranto mais apaixonado.
A todos vós, pecadores autênticos, criminosos infantis, enfim, a todos os náufragos do destino, perdulários indébitos da incompreensão humana, castigados pela severidade da razão, prisioneiros esquecidos do tempo infinito: – Acaso eu nunca tenha figurado entre algum de vós, perdoem-me se porventura não vos encarei com dignidade, pois desde sempre vos tenho encontrado presentes, dentro do meu próprio coração. (Geraldo Augusto Pinto)
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