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sexta-feira, 30 de maio de 2008

A implosão da mentira

Mentiram-me.
Mentiram-me ontem e hoje mentem novamente.
Mentem de corpo e alma completamente.
E mentem de maneira tão pungente que acho que mentem sinceramente.
Mentem sobretudo impunemente.
Não mentem tristes, alegremente mentem.
Mentem tão nacionalmente que acho que mentindo história a fora vão enganar a morte eternamente.
Mentem, mentem e calam
mas nas frases falam e desfilam
de tal modo nuas que mesmo o cego
pode ver a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil e para alguns é cara e escura,
mas não se chega à verdade pela mentira
nem à democracia pela ditadura.
Evidentemente crer que uma flor nasceu em Hiroshima e em Auschwitz havia um circo permanentemente.
Mentem, mentem caricaturalmente,
mentem como a careca mente ao pente,
mentem como a dentadura mente ao dente,
mentem como a carroça à besta em frente,
mentem como a doença ao doente,
mentem como o espelho transparente,
mentem deslavadamente
como nenhuma lavadeira mente ao ver a nódoa sobre o rio, mentem com a cara limpa e na mão o sangue quente,
mentem ardentemente como doente nos seus instantes de febre, mentem fabulosamente
como o caçador que quer passar gato por lebre
e nessa pilha de mentiras
a caça é que caça o caçador
e assim cada qual mente indubitavelmente.
Mentem partidariamente,
mentem incrivelmente,
mentem tropicalmente,
mentem hereditariamente,
mentem, mentem
e de tanto mentir tão bravamente
constróem um país de mentiras diariamente.
(Afonso Romano de Sant’Anna)

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