
Hoje, prevalece a indiferença e apatia. Será que os indivíduos concluíram que a democratização da sociedade não mudou essencialmente as suas vidas? Como bem compreendeu Tomasi di Lampedusa, em sua obra prima Il Gattopardo: “Se queremos que tudo fique como está é preciso que tudo mude”.
A performance dos políticos nos últimos anos fortaleceu o preconceito contra a política. Cada vez mais, esta é vista como algo por natureza imoral e antiética, relacionada ao egoísmo e aos privilégios.
Não é novidade que os políticos há muito padecem da rejeição popular. O mesmo se pode afirmar quanto às instituições políticas. Aliás, diga-se de passagem, e talvez em favor dos políticos tupiniquins, isto não se restringe ao Brasil. Em todo lugar, os políticos 'gozam' da antipatia e descrédito dos eleitores. A música de Cosme Diniz e Rosemberg, cantada por Bezerra da Silva, sintetiza este sentimento:
"Para tirar o Brasil dessa baderna
Só quando o morcego doar sangue
E o Saci cruzar as pernas."
A letra ironiza os políticos e os responsabilizam pelas desgraças. Ironia à parte, os poetas populares apenas expressam o que o senso comum pensa sobre a política. Mesmo com o voto obrigatório, muitos nem comparecem às urnas e aumenta a soma dos votos nulos e brancos. Ainda que consideremos apenas os que votam, vemos que a maioria dos eleitores 'desligam-se' da política quase que simultaneamente à declaração dos resultados oficiais.O eleitor comum tem razões justificáveis para negar a política. A própria atuação dos políticos contribui para a sua execração. Aliás, observe quem financiou suas campanhas eleitorais. Será que eles realmente defendem o bem comum? Ou, prioritariamente, eles defenderão interesses próprios e dos grupos econômicos que os financiam? Isso sem contar os casos onde os representantes diretos destes grupos se elegem com um discurso em favor do povo. Sempre o povo! Qual o maior interesse dos políticos em geral? Se reeleger...
Assim, não é estranho que as pessoas identifiquem política com a prática política da maioria dos políticos, ou seja, politicagem. Esta palavra, no bom Aurélio, significa: “política mesquinha, estreita, de interesses pessoais”; “o conjunto dos políticos pouco escrupulosos, desonestos”.
Mas, como dizem os bons cristãos, é preciso separar o joio do trigo. Não sejamos incrédulos a ponto de negar as exceções. Mesmo assim, a tarefa é difícil! Principalmente quando aqueles que se caracterizavam pela diferenciação, por inspirar confiança e esperança em seus eleitores, são 'domesticados' e jogam o mesmo jogo. É bom ter claro que em política a retórica está ao alcance de todos.
Não por acaso, a política tornou-se uma atividade profissional, um meio de ascensão econômica e social. São muitos os que aprenderam a viver exclusivamente da política. O que era um meio transformou-se no fim.
É sobretudo nos partidos que se faz política. A política passou a ter um sentido restrito, a significar simplesmente a política partidária e, portanto, a mera atividade dos políticos. Daí sua conotação negativa. De fato, a política partidária pode até ser necessária e importante, mas é somente um dos seus aspectos da atividade política em seu sentido amplo. (Antonio Ozaí da Silva)