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terça-feira, 18 de agosto de 2009

Bioética*


* Bioética é um neologismo construído a partir das palavras gregas bios (vida) + ethos (relativo à ética). Segundo Diniz & Guilhem, "...por ser a bioética um campo disciplinar compromissado com o conflito moral na área da saúde e da doença dos seres humanos e dos animais não-humanos, seus temas dizem respeito a situações de vida que nunca deixaram de estar em pauta na história da humanidade..."

“Existem brasileiros vivendo ao nível de primeiro mundo, instalados no centro e nos bairros nobres das grandes cidades. Esses brasileiros estão circunscritos pela vizinhança de um outro mundo de brasileiros favelados, desempregados e marginalizados, vivendo em condições sociais e econômicas bem distantes daquelas dos centros desenvolvidos. Mais distantes ainda dos centros de desenvolvimento urbano, sobrevivem os brasileiros das populações rurais em evidente situação de pobreza, analfabetismo e miséria social. Somos milhões de brasileiros pobres, isto é, sem renda para atender às necessidades básicas, dos quais, uma boa parte destes milhões são indigentes, ou seja, não conseguem satisfazer nem as necessidades alimentares. Aproximadamente, um em cada três brasileiros é pobre ou indigente. Em outras palavras, cerca de um terço dos brasileiros estão ficando a meio caminho do próprio ser. Mais grave ainda, somos milhões de crianças fora da escola e milhões de analfabetos com idade de 10 ou mais anos.
Sendo o valor da vida humana igual para todos, percebemos neste universo de profundas desigualdades sociais que os princípios da Bioética tornam-se utópicos.
Como pensar na justiça de igual acesso aos bens de saúde, se muitos nascem, adoecem e morrem sem assistência médica?
Como falar de autonomia àquelas pessoas que sequer têm autonomia para administrar a própria fome e são destruídos por ela?
Como zelar pela beneficência, quando o próprio ser biológico das pessoas, principalmente crianças, é atestado vivo da maleficência social?
Como proteger a integridade física, psicológica e axiológica dessas pessoas se a desnutrição já as comprometeu de forma irreversível?
Aquela pessoa que não conseguiu se desenvolver física e mentalmente por razões de pobreza, já foi violentada em seu direito mais essencial, o Direito de Vir a Ser após o nascimento. A violência a este direito anula qualquer aplicação dos princípios da Bioética.
Será hipocrisia não reconhecer que, à margem da grandeza dos princípios da Bioética, existem multidões de pessoas cuja indigência não permitiu ao imaginário a construção de uma auto-imagem dos próprios direitos. E se a proposta da Bioética é de autêntico respeito a qualquer ser humano, seja ele quem for, ignorar as inter-relações entre os princípios da Bioética e a pobreza, é negar a própria ética dos princípios.
O poder ofuscante dos bens materiais criou a ilusão de que o sofrimento gerado pela pobreza é restrito aos pobres. Ainda que o nosso consciente tente não registrar o sofrimento causado pela pobreza, o espírito humano guarda consigo o drama da miséria da espécie. Cada um de nós é um ser único na sua individualidade, mas a individualidade só existe em função da realidade com os outros. E até mesmo a felicidade de cada um é sempre gerada e compartilhada por outros. Ninguém é feliz sozinho. E do mesmo modo que a felicidade depende da interação com outras pessoas, a miséria e o sofrimento também interagem entre todos.
A humanidade, como um todo, necessita de uma Bioética que demonstre a quebra da harmonia universal provocada pela fome. Uma Bioética que reconheça e defenda o Direito de Vir a Ser após o nascimento como um direito universal, para todos, sem exceção. Ficar a meio caminho do que poderia ser, edifica barreiras de desigualdades sociais e impede a liberdade de aproximação e de interação entre todos. As barreiras sociais criam vazios no espírito das pessoas. Nada substitui o amor não vivido, o afeto não sentido, o diálogo não entabulado com o outro... porque é pobre. A humanidade é única e todos os seus membros compartilham a vida universal da espécie. Permitir que a pobreza destrua uma parte deste corpo finito é permitir limitações à própria universalidade da vida humana.”

Um comentário:

Edimar Suely disse...

Deu até um "nó" na minha cabeça sua postagem, mas fiquei inteirada sobre algumas coisas que desconhecia. Valeu.

Uma linda quarta feira e muita paz em sua vida.

Smack!

Edimar Suely
jesusminharocha2.zip.net