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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O exemplo do futebol (Alcindo Gonçalves)


Em todas as esquinas, rodas e conversas do País há unanimidade: no Brasil as coisas não funcionam direito. O jeitinho sempre vence e a lei não vale para todos parecem ser máximas aceitas por todos. Poderíamos acrescentar outras ideias consagradas, como aquela que diz que a política é o espaço da corrupção e dos negócios privados e escusos, ou que a Justiça é lenta e ineficiente.
Falar em direitos por aqui soa como conversa fiada. Muitos dirão que depende da posição social ou da situação econômica de cada um: os mais privilegiados podem tudo, sempre, e não são punidos nem sofrem qualquer constrangimento em suas atividades ou negócios.
Vivemos, portanto, na bagunça geral e institucionalizada pela história, pelas tradições e pela nossa cultura. E o que é pior e mais dramático: os anos passam e nada muda, de maneira substancial. Seguimos em frente com nossos velhos problemas, que parece que nunca terão solução.
A saída é cada um se virar como pode. Daí o clientelismo como prática comum, envolvendo quem presta o favor e quem vai em busca dele. Como a burocracia estatal é complicada e insolúvel, a saída é burlar e fugir dela. E se a Justiça não funciona, por que e para que procurar direitos se há maneiras mais ágeis de solucionar conflitos?
Nesse quadro de desalento, vale a pena olhar um instante para o esporte, e para o futebol em particular. Paixão nacional, envolve corações e mentes de brasileiros durante todo o ano. As emoções explodem a cada jogo, a cada torneio, a cada lance. E não se diga aqui que futebol é feito por anjos. Muito ao contrário: os cartolas dão as cartas nesse espaço, e os truques e malandragens andam por todos os cantos.
Há inclusive folclore envolvendo os dirigentes e sua grande dose de esperteza, fundamental para o êxito dos clubes, e histórias magníficas e saborosas sobre lances de bastidores e oportunismo em situações-chave.
Mas há um aspecto fundamental no futebol: as regras são cumpridas à risca. A autoridade do juiz nas quatro linhas é incontestável. Mesmo diante de erros incríveis que a televisão não se cansa de mostrar, as decisões sobre impedimentos ou gols irregulares são mantidas. E o mais incrível: as pessoas chiam, protestam, xingam, mas aceitam o que foi decidido.
A Justiça esportiva é ágil e dura. Veja-se o recente caso do Coritiba na final do campeonato brasileiro: em uma semana, praticamente, o caso foi julgado e o time paranaense severamente punido. E atletas que agridem, ou são flagrados em dopping, sofrem condenações rápidas e rigorosas. Ninguém dá jeitinho, não há protelações ou recursos sem fim.
O exemplo do futebol demonstra que quando as normas são cumpridas, e há absoluta segurança desse cumprimento, o resultado é melhor para todos. O sucesso do futebol em todo o mundo, além, é claro, do talento e da categoria de jogadores e equipes, se deve bastante a esse fato.
Fica aí a pergunta: se no esporte as coisas funcionam, e bem, por que isso não pode acontecer na política, na economia, nas relações com o Estado? Não estamos, afinal, no mesmo país? E um detalhe importante: o futebol desperta paixões fulminantes e exageradas. Mesmo assim, ninguém se atreve a contestar as regras e decisões dos tribunais esportivos. Será que um dia vamos viver essa realidade em todos os níveis?

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