
Qual a razão da introdução? Dizer que o Brasil é o país do eterno retorno. Lula, um dos mais poderosos presidentes da República, afunda-se, a cada dia, no buraco do status quo. Com cacife de sobra, molda o País para perpetuar o poder. Não admira que pesquisas encomendada pelos tucanos aponte: 58% dos entrevistados apóiam um terceiro mandato para ele. A idéia é rejeitada por ele. Por enquanto. Sabem quem ganha mais com a crise? Ele. Se o País exibe pujança econômica, é porque está sob o piloto automático. A lama moral que a cada dia enche as páginas do noticiário com levas de trânsfugas arrasta para o fundo do poço a estrutura institucional da Nação. Luiz Inácio, porém, disso se beneficia. Vejamos. O trem do presidencialismo de coalizão, lotado de vagões desde o ciclo FHC, alcança, hoje, o tamanho máximo. O Executivo legisla, executa e distribui verbas e cargos a partidos débeis. Agora, o paradoxo: porta-voz das mudanças e ícone da liberdade, Lula, com seu jeito de ser, reforça o autoritarismo herdado de 64.
Quem tem dúvidas que examine o figurino da administração, dividida em cinco áreas: a econômica, intocável, com um bem-sucedido programa liberal no vácuo da boa situação internacional; a social, sob a responsabilidade principal do PT, alimentador da base da pirâmide com o programa Bolsa-Família, que acaba de receber o aumento de 18,25%; a de serviços e infra-estrutura, repartida entre siglas aliadas e fatias do petismo e matriz das benesses; a dos controles e investigação, onde estão os aparatos da Polícia Federal com operações espetaculosas e ações da Controladoria-Geral da União, voltadas para a imagem do Estado protetor e da ética; e a de representação do Estado e comunicação com as massas, à qual ele mesmo se dedica com afinco, produzindo o mais gordo acervo de autolouvações da República. Por gostar mais desta última e deixar as outras sob alguns comandos, difunde-se o dito: Lula reina, mas não governa. Como lembrete, a exigência às autoridades para encontrarem a solução para o apagão aéreo. Isso foi há nove meses.
O desenvolvimento social, não há dúvidas, deu frutos. Contingentes de assalariados ascendem social e economicamente. Multiplicam-se os canais e núcleos de intermediação com a proliferação dos movimentos sociais. A população de baixa renda se torna a maior clientela do Estado, sustentada por bolsas que beneficiam 45 milhões de pessoas. Com esse trunfo Lula reforça o arsenal para deitar e rolar. O trem parlamentar, no despenhadeiro, impulsiona sua locomotiva. Vale lembrar que o corpo de representantes, nos últimos tempos, ganhou mais perfis do meio e da base da pirâmide social, quebrando a hierarquia do topo, o que também beneficia o presidente. No Congresso nascem e renascem as crises entre elas a do Senado, a mais aguda da contemporaneidade. A Câmara dos Deputados, de onde se esperava a ansiada reforma política, encomenda seu velório. Quanta decepção. Ali a política anda como caranguejo, para trás e para os lados. Para fechar o circo dos horrores, parte do corpo está sob suspeita: 63 parlamentares eleitos são processados na Justiça.
E o Judiciário? Recebe a sobra das denúncias de compra de pareceres e cooptação de juízes. Membros da Corte Eleitoral foram acusados de ter recebido propina de Roriz. O STF (supremo tribunal federal) não deu andamento à denúncia dos 40 envolvidos no esquema do mensalão. Passa a imagem de paquiderme em estado febril. O que fazer? Ora, cumprir rigorosamente o dever. Luiz Inácio, todo-poderoso, não consegue fazer cumprir as ordens. Os aviões continuam trombando em terra.
Os governos, ensina Karl Deutsch, são justos ou injustos, legítimos ou ilegítimos, não apenas pela forma como galgaram o poder, mas pela forma como atuam. E, se ações e omissões dos três Poderes violam os valores básicos que os inspiram, sujeitam-se ao imperativo de Santo Agostinho: “Um governo sem justiça é um grande roubo”.
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